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Data: 11/01/2010
Suplementação
alimentar é indicada apenas para atletas com rotina pesada de treino e para
quem tem restrições alimentares.
O uso de suplementos alimentares – que engloba substâncias como a creatina,
a maltodextrina, as barras e shakes de proteína e até as bebidas isotônicas –
já fazem parte da rotina de grande parte dos frequentadores de academia do
país, principalmente dos mais jovens. Segundo pesquisa realizada pela
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em abril do ano passado, 62% dos
frequentadores de academias de São Paulo entre 15 e 25 anos utilizam algum tipo
de suplemento, indicados para a reposição de nutrientes, vitaminas e sais
minerais consumidos em treinamentos físicos muito intensos.
Entretanto, segundo especialistas, quem treina de três a seis vezes por
semana, até duas horas por dia, não necessita de suplementação. Uma alimentação
balanceada é o suficiente para repor o que se perdeu durante o treino e
alcançar os objetivos desejados, sejam eles ergogênicos ou estéticos. Como
explica a nutricionista Juliana Turmina, da Academia Gustavo Borges, os
suplementos são indicados para atletas de ponta, com necessidades nutricionais
muito elevadas, ou para quem pratica exercícios físicos moderados, mas tem
dificuldade em obter algumas substâncias durante as refeições, caso de quem
segue uma dieta vegetariana.
“Maratonistas e triatletas, principalmente aqueles que estão se preparando
para uma competição, e treinam até mais de uma vez por dia, chegam a gastar 5
mil calorias por dia. Nesses casos, é muito difícil suprir os nutrientes
perdidos apenas com a alimentação. Os suplementos também servem para amenizar o
desgaste muscular provocado por práticas intensas”, explica Juliana. Fora
desses requisitos, o consumo de suplementos alimentares, além de desnecessário,
pode prejudicar a saúde quando não há orientação de um médico ou nutricionista.
De acordo com o estudo da Unifesp, que entrevistou 201 jovens de redes de
academias de São Paulo, mais de 80% dos alunos compram e ingerem esses produtos
sem recomendação. “O uso indevido da creatina, por exemplo, usado para obter
hipertrofia muscular, pode causar a retenção de líquidos, levar à desidratação
e até interferir na função renal. Já a ingestão de proteína em excesso, além de
sobrecarregar os rins também pode prejudicar a função hepática. Os efeitos não
são imediatos, ocorrem a longo prazo e quando consumidos em doses incorretas”,
explica o endocrinologista Alcides Guadagmin, da Paraná Clínicas.
O médico lembra ainda que os efeitos benéficos dos suplementos também são
questionáveis, pois a maioria não é cientificamente comprovado. “Muitos estudos
que indicam o uso de suplementos para melhorar a performance, fortalecer a
musculatura ou queimar gordura são contestados pela comunidade médica”, aponta.
“É comum os suplementos não cumprirem o que prometem, principalmente quando
consumidos sem necessidade e de forma indiscriminada. Muitos alunos nem sabem o
que estão tomando, seguem a orientação dos amigos e dos professores, um grande
risco, já que alguns produtos têm até anabolizantes escondidos em sua
composição”, completa a nutricionista.
Mudança para melhor
A arquiteta Doriane Wagner, 44 anos, participa de competições de travessia e
nada cerca de 50 mil metros todos os dias. Para aguentar a rotina de treinos,
tomava maltodextrina antes de cair na piscina, mas, além de não sentir nenhum
resultado, ainda descobriu que o suplemento fazia o seu organismo reter
insulina. “Eu estava ingerindo muita glicose e não conseguia consumir tudo. A
minha barriga chegava a ficar inchada. Por isso, parei de usar o suplemento”,
conta.
Com o apoio de uma nutricionista, Doriane mudou a alimentação e hoje segue
uma dieta específica para render melhor durante o treino. “Tive que acrescentar
lanches de 100 a 150 calorias no meu dia a dia. Como de duas em duas horas. Aumentei
a ingestão de frutas e sucos naturais e sempre consumo uma porção de
carboidrato antes de nadar, além da água de coco. Apesar de estar comendo mais,
o meu manequim se manteve o mesmo e ganhei mais definição e força muscular”,
explica.
A nutricionista Juliana Turmina lembra que até os isotônicos, considerados
inofensivos, devem ser usados com moderação. “Hoje em dia, vemos crianças
bebendo isotônicos, quando um bom copo de água ou de suco natural são mais que
suficientes para repor os minerais. Os isotônicos em geral têm muito sal, muito
açúcar e poucas vitaminas. Não devem substituir a água”, recomenda.
Texto Retirado: Jornal Gazeta do Povo.